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A bela cidade de Veneza |
Conhecida por seus canais e pela Catedral de São Marcos, Veneza tornou-se uma grande potência comercial desde o século X, possuindo uma das maiores frotas da Europa. Sua prosperidade veio com as Cruzadas e, no século XIII, dominava grande parte do Império Romano, e assim permaneceu até a chegada de Napoleão, quando a dissolução da cidade-estado veio a ocorrer em 1797. Posteriormente, passou ao domínio austríaco até a unificação da Itália. Veneza encontra-se edificada em 118 ilhas ligadas por centenas de pontes e divide-se em seis distritos, ou sestieri, três de cada lado do Grande Canal.
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Chegando à Veneza |
Saindo do nosso hotel em Mestre, seguimos para a Piazzale Roma, passando pela Ponte della Libertà, até Tronchetto, de onde partem os ferry, vaporetti e motoscafi (lanchas). O passeio pela Laguna Veneta sempre emociona e encanta... Estivemos em Veneza por duas vezes, sempre no mês de agosto, uma época de intenso calor e de um número excessivo de turistas. Desembarcamos no Canal de São Marcos, no distrito de Castello, em frente à Ilha de San Giorgio Maggiore e caminhamos pela Riva degli Schiavoni, para nos encontrar com a guia de turismo local. Veneza é encantadora e nos remete à fantasia dos bailes de máscara e dos percursos de gôndola através de seus misteriosos e românticos canais.
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A Praça de São Marcos em frente à Basílica sempre repleta de turistas |
O Campanille, a torre mais alta de Veneza - na verdade foi reconstruída em 1912, pois a antiga praticamente ruiu - foi concebida para ser ao mesmo tempo a torre do sino da Basílica, um farol para os navios e um posto de vigia do porto. Ali perto, está a Torre dell’Orologio, em ouro e esmalte azul que data de 1499 e é famosa pela inscrição em latim que diz: “eu só conto as horas felizes”. O relógio também marca a hora, o dia, a fase lunar e a marcha dos dozes signos do horóscopo através do ano.
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O campanille na Praça de São Marcos |
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A Torre do Relógio |
A Basílica de São Marcos é magnífica e imponente, com belos detalhes preciosos e únicos, como os mosaicos, os entalhes, os cavalos que se encontram no balcão, os domos e tantos outros. Fizemos uma visita em seu interior pelas facilidades reservadas aos grupos, pois a fila de visitantes comuns é imensa... O Palácio Ducal ou o Palácio dos Doges de Veneza é, sem dúvida, o prédio mais representativo do estilo gótico veneziano, uma mistura do gótico propriamente dito, do bizantino e do islâmico. Possui uma história temporalmente muito extensa e cheia de glórias, como também de dificuldades, tais como incêndios, demolições e modificações parciais em suas características originais. Atrás dele, projeta-se a Ponte dos Suspiros que se encontrava rodeada de andaimes, motivo pelo qual a sua beleza não pode ser devidamente contemplada. O nome da ponte, embora sugira um devaneio romântico, foi dado por causa dos suspiros e lamentações dos condenados à prisão que passavam por ela saídos do Palácio.
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Detalhe da fachada da Basílica de São Marcos |
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A Ponte dos Suspiros envolta por tapumes artisticamente planejados e executados |
Mais tarde, fomos apresentados à técnica do “soprado”, na elaboração dos cristais de vidro de Murano. A loja que recebeu o nosso grupo continha várias salas interligadas, com toda a sorte de vasos, adornos, objetos, lustres e espelhos de cristal, com preços nada convidativos na sua maioria.
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A técnica do vidro soprado |
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Peças de cristal de vidro Murano |
O nosso primeiro passeio de gôndola foi memorável, embora eu tivesse receio de entrar naquela embarcação estranha que, em minha opinião, balançava demais. O nosso grupo ficou dividido entre oito gôndolas e, para cada grupo de quatro, havia sido contratado um tenor e um gaiteiro. Tivemos a sorte de tê-los em nossa gôndola. Assim, deslizamos pelos canais, com espumante e copos de plástico a bordo e ao som de músicas italianas, como Volare, sob “um céu azul pintado de azul” que muito nos emocionou. De origem e simbologia misteriosas, a embarcação negra, com adornos de prata, cadeiras baixas estofadas com veludo vermelho, lembrava os antigos barcos do Egito ao longo do Nilo. O barqueiro, com a tradicional camisa listrada e o chapéu de copa larga, displicentemente colocado de lado, se equilibrava utilizando um remo só, com muita destreza e segurança. Desembarcamos deste sonho e, depois de andarmos por várias ruas com inúmeras lojas de toda a sorte de artigos, fomos almoçar em um restaurante indicado pelo nosso guia, num daqueles lugares que somente ele conseguiria achar.
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Pelos canais de Veneza |
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Fernanda passeando de gôndola, quando retornamos à Veneza noutra viagem |
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A Ponte de Rialto, a mais bonita e representativa de Veneza |
Após andar por um bom tempo, fugindo do calor e da multidão, entrei numa rua estreita e calma, perto do ponto de encontro, que foi dar no Campo Bandiera e Moro. Campo significa um espaço aberto rodeado de edifícios, uma espécie de praça na linguagem dos venezianos. Nele descobri uma pequena igreja que me pareceu ser um achado providencial para descansar as pernas e fugir do calor. Entrando na igreja, veio até a mim o som da inconfundível música de Vivaldi que ali estava sendo reproduzida e foi uma benção que me invadiu o espírito, devolvendo-me a paz, o alívio e o reconforto. Esta é uma grata lembrança de Veneza, como se fosse um presente de grande valor e que foi achado ao acaso. Quando voltei ao Brasil, descobri que se tratava da Igreja de San Giovanni Battista in Bragora, a paróquia de Antonio Vivaldi. A pia, onde ele se batizou, se encontra logo na entrada, à esquerda. A Igreja possui pinturas renascentistas importantes e o famoso retábulo do Batismo de Cristo.
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A Igreja de San Giovanni Battista in Bragora, a paróquia de Antonio Vivaldi |
Como não tinha noção de onde estava naquela hora, não pude observá-la sob o ponto de vista artístico e histórico como deveria, mas, sim, de outra forma, através de uma linguagem divina e intemporal através da música. Ao final, quando já ia embora, o padre entregou às poucas pessoas que ali estavam um cartão que continha os seguintes dizeres: “Encontrar-se com Veneza e suas raízes cristãs significa descobrir uma cidade da humanidade. Fala espontaneamente aos homens e mulheres de qualquer idade, cultura e religião. É o milagre de sua beleza, não uma simples experiência estética”.
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Os músicos do Caffè Florian |
Após algum tempo, voltamos à Piazza e ouvir os músicos do Caffè Florian, o mais antigo da Itália, “Il luogo dove Venezia e il mondo si incontrano”, freqüentado por Goethe, Proust e Byron, local este em que as boas compras também foram possíveis: o perfume Acqua Admirabilis, que evoca os bailes de máscara de Veneza e o Tè Venezia, para servir na hora do chá de alguma tarde especial que evoque reminiscências venezianas...
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As verdadeiras máscaras feitas por artesãos de Veneza são belíssimas |
Lembranças de Veneza? Além de alguns souvenires, cintilam pelos canais da memória as imagens de máscaras, cristais, rendas, mármores, canais e gôndolas, pontes, jóias, espelhos e a fascinante arquitetura veneziana. No final da tarde, embarcamos em direção a Mestre e ao nosso hotel, pois, na manhã seguinte, iríamos para a cidade de Pádua, deixando Veneza para trás, cada um de nós levando uma parte dela dentro de si e que foi vivida à sua maneira, cada qual com a sua peculiar percepção de vê-la e de senti-la...
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Arrivederci, Venezzia! |
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